Uma das mais ativas diretoras do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem (SATEMRJ), a técnica Lucimar de Oliveira apresenta em entrevista um balanço das principais lutas da categoria no ano passado e fala sobre as perspectivas para 2020. Representante do Sindicato na Comissão de Saúde Mental do Conselho Municipal de Saúde e no Movimento Unificado em Defesa do Serviço Público Municipal (MUDSPM), Lucimar comenta as questões que mais inquietam os técnicos em particular e os profissionais da saúde em geral. Qual é a importância, para os técnicos e auxiliares de enfermagem, da participação do SATEMRJ nos coletivos de servidores do município e do estado? Quando unificamos a luta com trabalhadores de outras categorias, como professores e enfermeiros, ganhamos mais força para enfrentar os desmandos dos governantes e também para garantir e ampliar direitos. Não apenas para os auxiliares e técnicos de enfermagem, mas para todo o conjunto de trabalhadores do estado e do município. É claro que cada sindicato tem suas pautas específicas. Quando entrou, o Crivella resolveu cortar nosso adicional noturno, o que reduziria drasticamente os salários. Esse é um exemplo de pauta específica da Saúde – na qual, felizmente, fomos vitoriosos – mas existem outras, como os atrasos de salários, a questão das férias e o desmonte do Previ-Rio, que são lutas de todos, são lutas unificadas. Juntos, lutamos também contra a taxação dos inativos e pela manutenção do abono permanência, aquele que é pago aos profissionais que pedem para continuar trabalhando após a aposentadoria. Outro exemplo. O SATEMRJ se envolveu na luta pelas creches municipais visando os filhos dos trabalhadores da categoria, mas valeria a pena entrar nessa luta mesmo que os filhos de auxiliares e técnicos de enfermagem não estivessem nessas creches, porque estaríamos lutando para manter direitos que são de todos os trabalhadores. O que está na agenda dos movimentos unificados para 2020? Estamos nos reunindo para formar essa agenda. A primeira reunião do ano foi a respeito do pagamento das férias, que ainda não foram pagas tantos aos profissionais de saúde quanto aos professores. A próxima vai ser sobre a questão da Previdência, o nosso Previ-Rio, que já estava caidinho e cheio de problemas, e agora ainda querem aumentar nosso desconto para 14%. Estamos organizando a luta contra mais esse ataque aos servidores. Qual vitória ou derrota você destaca dentre as lutas coletivas travadas em 2019? Só penso nas vitórias, porque derrotas não são definitivas, mas apenas lutas que ainda não vencemos. Nas pautas unificadas, no ano passado conquistamos, com participação ativa do SATEMRJ, a manutenção da creche Dr. Paulo Niemeyer e a abertura da CPI do Previ-Rio. Esse trabalho unificado do SATEMRJ com as demais categorias não é de hoje. Juntos, já havíamos conquistado o tíquete alimentação para os profissionais de saúde, que não tínhamos até um passado recente. Juntos, também discutimos e apresentamos uma síntese do Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS), que agora vamos ter que batalhar muito para ver ser implementado. Como é travada a luta pelo fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS)? Principalmente por meio do Conselho Municipal de Saúde (CMS), do qual fazemos parte, com foco na qualidade do atendimento prestado, porque o Conselho está justamente encarregado de fiscalizar as condições de funcionamento das unidades de saúde. Dentro do Conselho nós hoje também tentamos aproximar os demais conselheiros dos usuários, para mostrar as dificuldades dos profissionais que atuam em uma rede sucateada. Gostaríamos de prestar um atendimento de primeira, foi para isso que estudamos e tanto nos dedicamos, mas enfrentamos muitas dificuldades. Temos bons profissionais, mas as condições são péssimas. Tivemos avanços na Comissão de Saúde Mental? A Comissão estava parada e nós a retomamos. Temos propostas a colocar, com foco nos profissionais de saúde. Vemos hoje um aumento nos casos de suicídio e depressão entre os colegas, que estão abandonados em sua saúde mental. Além da saúde física perdida por falta de ergonomia, vivemos uma pressão psicológica muito grande pela natureza do nosso trabalho. As pessoas não entendem nossas dificuldades. O resultado é que estamos vendo profissionais adoecendo. Quem cuida precisa ser cuidado, mas não temos a devida assistência nas unidades. Na área da Saúde Mental isso às vezes é ainda pior. Quase nunca lidamos com emergências clínicas, mas encaramos justamente as questões emocionais, para as quais é preciso enxergar o outro, saber ouvir. Isso é muito mais difícil justamente quando não estamos sendo ouvidos, porque somos também seres humanos e temos momentos de fragilidade. Como estar forte para apoiar o outro nesses momentos se não temos apoio nas unidades? Queremos mudar a situação do profissional da Saúde Mental, atentar mais para o seu emocional. Vamos buscar costurar um trabalho conjunto nesse sentido com a Comissão de Saúde do Trabalhador, um trabalho para alcançar também os trabalhadores dos hospitais clínicos. O que marcou o ano dos auxiliares e técnicos de enfermagem em 2019? Sem dúvida foi a luta incessante, que deve continuar esse ano, contra os atrasos de salários dos contratados por organizações sociais (OS). Apesar do problema afetar trabalhadores de várias categorias da saúde, o SATEMRJ assumiu o protagonismo e abriu na Justiça do Trabalho o dissídio de greve contra as OS e o município, ao qual depois foram incorporados os demais sindicatos, com um papel fundamental desempenhado pela presidente Mírian. Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, essa luta uniu ainda mais a categoria. Isso foi demonstrado em pequenos e grandes gestos de solidariedade entre os colegas nos momentos mais difíceis, quando muitos não tinham o dinheiro da passagem, ou tiveram que mandar os filhos para casa de parentes porque já não tinham mais comida em casa. Essa situação difícil também ajudou muitos auxiliares e técnicos a despertar para a importância da luta coletiva e organizada por objetivos em comum. Muita gente participou das assembleias e passou a integrar as comissões do SATEMRJ nas unidades, como, por exemplo, no Hospital Municipal Albert Schweitzer, no Hospital da Mulher Mariska Ribeiro e também no Hospital Psiquiátrico Nise da Silveira, unidade em que trabalho. Mais do que nunca a categoria se apropriou do Sindicato enquanto instrumento de luta, mas é preciso que mais gente se sindicalize para fortalecer esse trabalho, porque o sindicato vive apenas das contribuições dos associados. Outra conquista importante, liderada pessoalmente pela presidente Mírian, foi a convocação de todos os candidatos aprovados no concurso para auxiliar de enfermagem realizado em 2011, em decisão tomada pela Justiça em ação civil pública movida pelo SATEMRJ. O que mais uma vez demonstra a importância do Sindicato na vida do trabalhador.
