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TELEMEDICINA: DE VIRTUAL, BASTA O PREFEITO

MIRIAMESCURA   Sem qualquer discussão prévia com a sociedade ou com os profissionais da Saúde, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, anunciou na última sexta-feira (25/10) querer implantar a “telemedicina” nas clínicas em áreas violentas da cidade. Pela proposta, nos dias de tiroteios ou operações policiais, os médicos vão auxiliar à distância, pela internet, o trabalho dos técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS). Para início de conversa, o prefeito vende como avanço o que não passa de improviso, de um placebo inútil para enfrentar a falta de profissionais nos hospitais, postos de saúde, UPAs e clínicas da família. A tecnologia poderia vir para somar, claro, mas o atendimento médico pela internet pouco ajudaria quando falta tanta coisa mais básica e essencial, como gaze, remédios e os próprios profissionais de saúde. Para quem não sabe, a Saúde carioca sofre uma grave crise de gestão. Desde que Crivella entrou, em 2017, o orçamento diminuiu, muitas clínicas foram fechadas, equipes foram reduzidas e falta todo tipo de recursos humanos e materiais nas unidades precarizadas que restam. Para os profissionais contratados por organizações sociais (OS) a situação é ainda mais dramática, com atrasos de salários praticamente todos os meses. Depois, não há na legislação qualquer previsão para o exercício da “telemedicina”. De quem será a responsabilidade sobre decisões médicas tomadas à distância? A lei brasileira não responde, Crivella também não. Por fim, os moradores de comunidades e os profissionais de saúde que atuam nessas áreas, que já são os mais desfavorecidos no quadro da crise, seriam justamente os mais afetados pela proposta, pois não temos a opção de nos esquivar no fogo cruzado. Nem questiono a grande diferença de tratamento que há entre médicos e técnicos de enfermagem, em termos de salários, auxílios, etc., mas o perigo é o mesmo e todas as vidas têm igual valor. O que está ruim vai ficar pior se nós, profissionais da saúde, mordermos a isca com a qual o prefeito esconde o anzol da desunião. Dependemos uns dos outros – médicos, enfermeiros, técnicos, agentes de saúde e outros – para trabalhar dignamente e prestar bons serviços à população. Objetivos que não vamos atingir enquanto estivermos preocupados apenas com nossos próprios umbigos. O SATEMRJ não vai aceitar calado que auxiliares e técnicos de enfermagem sejam tratados como profissionais de menor importância, nem a oferta de serviços de segunda categoria para a população carioca. Destes, no Rio, já basta o prefeito que temos.

Mírian Lopes,

Presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem do Município do Rio de Janeiro (SATEMRJ)

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